Quando e como corrigir a postura da pega no lápis?

Há dois anos eu estou trabalhando com crianças mais velhas – 5 anos e começando a alfabetização. No começo foi um grande desafio, pois eu sempre fui muito apaixonada pelos pequenos e resistente em sair dessa faixa etária.

Não preciso nem dizer que já mudei muito de ideia quanto a coisas que eu acreditava piamente, e a “pega” correta da criança no lápis é uma delas.

Sempre achei que essas questões motoras eram refinadas e desenvolvidas com o passar do tempo e que não tinha a necessidade de ser “forçada”. Na verdade, em condições típicas, a pega é sim aperfeiçoada com o tempo, mas ela precisa começar do jeito correto.

Hoje eu percebo que a criança começa a se acostumar com o jeito errado e aquilo fica muito confortável, se tornando um vício que depois é mais difícil de mudar.

Portanto, faz parte do nosso papel corrigir a pega de crianças a partir dos 3 anos e meio.

Passo a passo:

1- Unir os dedos indicador e polegar fazendo uma pinça

2- Colocar uma bolinha de papel amassada para a criança segurar com os 3 dedos que sobraram.

PRONTO! É simples assim.

Dessa forma, após fazermos o passo a passo com a criança, todos os momentos que virmos a criança segurando o lápis errado, devemos corrigir. Nem precisa falar, porque na maioria das vezes o cérebro da criança já entendeu, mas o processo motor é mais demorado mesmo, só de corrigir na própria mãozinha deles já resolve.

 

 

 

Habilidades socio/emocionais são mais importantes do que as acadêmicas em crianças em idade pré escolar

Pais de crianças da pré escola costumam fazer as seguintes perguntas:

“Meu filho já sabe escrever quantas palavras?”

“Até quando ela vai escrever o nome errado?”

“Já sabe contar até 100?”

Embora a educação infantil crie uma base importante para as habilidades acadêmicas, a verdade é que as habilidades socio/emocionais vem antes de aprender a escrever o próprio nome ou contar até 50.

Vou explicar: uma criança que sabe expressar seus sentimentos, sabe resolver conflitos de maneira desejável, sabe participar em grupo de brincadeiras será, inegavelmente, um adulto que terá mais sucesso na sua vida pessoal e profissional.

Ficamos muito preocupados em exigir resultados, as vezes mais concretos das crianças, mas isso é só uma ansiedade nossa (adultos). Vamos olhar para as conquistas dos nossos filhos de maneira diferente.

Que criança está pronta para iniciar o primeiro ano escolar? Essas são as habilidades que deveriam ser avaliadas:

1- Brincar bem com os amigos:

Saber se convidar para participar de uma brincadeira, fazer amizades e até mesmo expressar que não gosta daquela brincadeira e procurar outra são habilidades que formam uma criança que sabe compartilhar, esperar a sua vez, negociar e experimentar. Brincadeiras livres exigem que a criança trabalhe resolução de conflito sem a participação de um adulto, negociação de divisão de tarefas e diferentes papeis na brincadeira: uma vez eu sou o líder, outra você é.

2- Resolver conflitos:

Saber resolver um conflito sozinho, na minha opinião, é a habilidade mais importante que uma criança pode adquirir. Ter maturidade para lidar com os conflitos que podem aparecer: “ninguém quer brincar comigo”, “não quero dividir minha boneca”, “fulano me bateu”, entre inúmeros outros, formam uma criança segura que sabe lidar bem com um possível fracasso. Quando encorajamos as crianças a lidar com os problemas sozinhas, ou a ajudamos a criar estratégias para tal, estamos incentivando a autonomia de pensamento, o olhar crítico para o que não deu certo e o que pode melhorar.

3- Como nomear e reconhecer sentimentos:

Falar sobre os sentimentos pode ser um grande desafios para muitos adultos por aí. Encorajar a criança a dizer que não gostou ou que se sentiu ofendida com alguma brincadeira/piada/palavra pode ser o grande caminho para criar crianças menos agressivas e mais empáticas. Saber se expressar é tão difícil que acabamos “acatando” muitas situações com medo de nos colocar. Ensinar para a criança que o sentimento dela importa, é criar um adulto que sabe se defender e se valorizar.

Diferenças entre punição e consequência natural

Por que nós professores temos tanto pavor de punição? Além de ser uma palavra muito forte, não surge o efeito que deveria. As crianças não tem uma abstração mental tão desenvolvida para perceber que ela está de “castigo” por algo errado que fez.

Vou explicar:

Se eu tenho um aluno que está batendo/mordendo o que eu chamaria de punição: dar uma bronca e colocá-lo para pensar sentado afastado dos amigos. Você acha mesmo que colocar uma criança para pensar vai fazê-la refletir sobre seus erros e como poderia ser uma pessoa melhor? Isso é exigir um amadurecimento que a criança não tem. Não podemos exigir mais do que ela pode nos dar, é covardia. Desgasta o nosso relacionamento com a criança a toa, e nos faz criar uma certa “birra”, pois a todo momento estamos excluindo do grupo e expondo para os demais.

Castigo para pensar só estressa, envergonha e desestimula qualquer criança. 

Mas então qual a solução?

A diferença da consequência natural, seria uma intervenção menos traumática para a criança, mas que tem muito mais efeito, pois ela depende e se adequa a qualquer situação. Se uma criança morde, na hora da mordida eu corrijo o comportamento (dizendo: mordida machuca o amigo, nós fazemos carinho), mas não excluo da situação. Chamo a criança para ver o que ela fez e ajudar a cuidar do amigo que ela machucou (levando para lavar, passando um creme, colocando gelo).

Muitas vezes a criança só está fazendo para chamar a atenção do adulto. Não dê atenção (bronca, castigo) em situação negativa. Por outro lado, dê muita atenção positiva quando a criança fizer algo certo, corajoso, independente, amigável.

Em outros casos, se a criança estiver tendo um comportamento inadequado em uma atividade, eu simplesmente direciono ela para outra brincadeira. Se ela não está sabendo se comportar, eu pego na mão dela e ofereço outra possibilidade dizendo: “Estou percebendo que você não está conseguindo dividir esse brinquedo, deixe ele aqui e vamos procurar outro”.

O segredo é a firmeza e a constância, não gritar, não demonstrar para a criança que aquilo te irritou. Proibir a criança de comer, brincar ou participar não é solução.

Firmeza com Delicadeza

Depois de dançar ballet por diversos anos ao longo da minha vida, percebi que talvez essa tenha sido o meu maior aprendizado: ser forte mas soar delicada. Claro que as pessoas são diferentes, mas pra mim o grande desafio sempre foi a força. Ser firme, imponente, o lado mais agressivo da dança, o responsável por desenhar os músculos, foi tão difícil. Me atrevo até a dizer que foi aumentando conforme fui amadurecendo.

Na Educação Infantil a firmeza é tão importante quanto na dança, ela traduz segurança e ao mesmo tempo cuidado. Já notaram como as crianças precisam da firmeza dos adultos? O quanto elas depositam em nós? O mundo delas está em pé porque nós estamos lá segurando. A confiança de saber que tem sempre alguém ali olhando é completamente necessária para um desenvolvimento saudável. Enquanto as crianças estão ali dançando, nós estamos nos preparando para os próximos passos.

Mas segurança não é só dar a mão enquanto atravessamos a rua, é também dizer que está na hora de dormir e ponto final. É saber qual o momento de ser firme sem ser agressiva. É impor seus limites, construir juntos nossas regras, mas também saber ceder. É dar colo, mas repreender quando está errada.

É dançar conforme a música, é muito muito ensaio para 1 hora de espetáculo.

 

Algumas atividades que ajudam na alfabetização sem usar lápis e papel

Uma das fases mais importantes, e ao mesmo tempo mais difíceis e cheia de expectativas é o começo da alfabetização. Primeiro de tudo, precisamos lembrar que a alfabetização é de certa forma, uma imposição de uma forma de comunicação, porém de extrema importância e necessidade. Afinal, não podemos nos comunicar cada um de um jeito, não é mesmo? Foi preciso ser estipulada uma norma e esta, ser seguida por todos. Porém, não deixa de causar estranhamento em um primeiro momento, não podemos querer que todas as crianças reajam da mesma forma quando as ensinamos como escrever.

Ficar trabalhando a pega correta do lápis e circular as letras pontilhadas parece ser a maneira mais eficaz de trabalhar o letramento, correto? Concordo em termos: além de serem atividades extremamente chatas com técnicas antigas, a criança precisa estar em um nível de coordenação motora fina bem avançado para ser bem sucedido nessas atividades.

Daí o motivo de algumas crianças “conseguirem” antes de outras, é tudo uma questão de prática, quem pratica a mais tempo, tem mais vantagens, não é mesmo? Mas como elas estão praticando? Pois é… esse é o grande trunfo da alfabetização. Não trabalhe em cima do contorno das letras em sala de aula, trabalhe a coordenação motora fina em brincadeiras, jogos, atividades lúdicas, e comece bem cedo, assim, quando chegar o momento de escrever, não será tão difícil, pois o físico já estará bem trabalhado.

Aqui algumas atividades de coordenação motora fina para serem exaustivamente trabalhadas antes da alfabetização:

 

  • Movimentos da pinça:

  • Recortes:

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  • Costura:

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  • Elástico:

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  • Encaixe nos canudinhos

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  • Transporte de materiais com ferramentas:

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  • Massinha:

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Ser professor é…

Ser professor é o motivo pelo qual eu larguei meu diploma de publicitária.

É perceber que o mundo já é muito superficial para não se preocupar com Educação.

É entender que tudo, tudo, tudo tem saída, tem jeito, tem solução.

É amar a profissão.

É se valorizar quando ninguém mais faz.

É se apaixonar pelas pessoas.

É se apaixonar mais ainda por aqueles que não sabem o quanto eles precisam de você.

É saber que muitas vezes você é a única pessoa que acredita no seu aluno.

É lutar pelo outro e não julgar.

É se preocupar com o outro, é cuidar.

Não é fazer, é ensinar como se faz.

É debater, ler, pensar na melhor forma.

É se reinventar todos os dias.

É assumir que errou e começar tudo de novo, diferente.

É aprender muito mais do que ensinar.

É incluir, pertencer, conhecer.

 

Mas principalmente, é transcender amor! Educação é só amor!

Feliz dia dos professores ❤

Questão de higiene – Como evitar que a criança fique doente o tempo todo

Quem trabalha com Educação Infantil ou tem filhos pequeno sabe que essa é uma fase que a criança fica doente quase que 100% do tempo. Mas por que isso? Chama-se fase oral, toda criança passa, o que significa que absolutamente TUDO o que ela vir pela frente, vai colocar na boca.

Mas então devemos impedir que as crianças coloquem as coisas na boca? JAMAIS!!! A fase oral é importantíssima para o desenvolvimento, significa que a criança está explorando. Explorar para eles não é só olhar e sentir com as mãos…é muito além, eles querem sentir o gosto, a textura, o formato, e tudo isso é feito com a boca (é por onde vem meu alimento, é a primeira parte que a criança aprende a usar depois que nasce).

O que nós fazemos é procurar adaptar o ambiente ao máximo para que eles possam se desenvolver sem ficar muito doentes. Antes que os “educadores raíz” venham me criticar, dizendo que as crianças precisam desenvolver anticorpos, eu concordo com vocês. Nunca conseguiremos evitar todas as doenças, gripes, febres e afins…mas o contágio sim. Sabe aquela virose que todo mundo pegou? Dá pra não pegar!

Tirar os sapatos ao entrar nos ambientes:

Sempre tenha um sapato que sirva só para ficar em casa e outro só para sair (caso você se incomode em ficar em casa de meias ou descalço). Quando for à escola do seu filho, também certifique-se que esses cuidados estão sendo tomados e não vá lá você, entrar na sala com o sapato que veio da rua.

Lavar as mãos com sabão:

Essa parece óbvia, mas muitas pessoas não sabem como lavar as mãos de verdade. Lavar as mãos com sabonete passando por todos os dedos, dentro das unhas contando até 45 (desliga a torneira quando estiver esfregando, mas tem que molhar a mão antes). Todas as vezes que assoar o nariz do seu filho, ou de outra criança, lavar as mãos. Todas as vezes que entrar em um ambiente novo, lavar as mãos. Antes de comer, lavar as mãos. Todas as vezes que encostar em lixo, sujeira: lavar as mãos.

Higienizar os brinquedos passados pela boca das crianças:

Parece exagero? Eu juro que não é! Fique de olho, se tiver mais de uma criança brincando com o mesmo brinquedo e ele for pra boca, guarde-o em cima da pia para mais tarde passar álcool (falei mais tarde porque normalmente se faz isso ao final de cada dia, já higieniza todos de uma vez). Spray de álcool com água, passa um paninho e depois só deixa água escorrer e secar naturalmente.

Higienizar as superfícies:

Mesa de comida: pano com álcool antes e depois de comer. A comida cai na mesa (e tem que cair mesmo, não adianta querer que uma criança não derrube comida fora do prato). Armário onde ficam os brinquedos, todas as superfícies que os brinquedos encostam antes de passar pela boca da criança, isso inclui o chão.

 

Como se preparar para os primeiros dias de aula no Canadá (dos seus filhos)

Sempre recebo perguntas como essas: “Como que é a adaptação no Canadá?” “Meu filho não fala inglês” “O que eu faço?” “O que eu levo?”

Primeiro passo: tente manter a calma!

Segundo passo: lembre-se, seu filho não está tão ansioso quanto você. Ele vai ficar se perceber algo de errado com a mamãe ou com o papai. Seu filho confia em você e acredita em tudo o que você fala e faz. Se pra você tá bom, pra ele também está!

O ideal é conversar com as crianças sobre tudo o que está acontecendo independente da idade: “Filho, vamos nos mudar para outro país e você vai estudar em outra escolinha”. Seja franco com ele, fale sempre a verdade: “Filho, vai ser uma fase complicada para a mamãe também, vamos todos para um lugar onde não conhecemos ninguém”. E se mostre disponível: “Mas a mamãe e o papai estão sempre aqui pra qualquer coisa que você precisar”.

Quando o grande dia chegar, obedeça as regras de adaptação da escola (você provavelmente vai saber um pouco antes) – se quiser também pode ler esse post sobre adaptação, e se tranquilizar um pouco mais.

Pense que o Canadá é um país que recebe, em média, 320,000 imigrantes por ano (segundo o site do cic). Eles estão bem acostumados com imigrantes, e mais ainda com filhos de imigrantes. A maioria das escolas possuem estratégias concretas e bem funcionais com relação ao desenvolvimento da linguagem. Seu filho não vai sair falando inglês no primeiro dia, mas a ideia é que ele não se sinta desconfortável com a língua, apresentada de maneira suave e despretenciosa.

Trabalhei em uma escola esse ano que na porta de entrada estava escrito em algumas línguas: Bom dia! – Apesar de em português estar errado, não deu tempo de tirar a foto com o corrigido.19453172_1036403296490394_4229552652365035608_o

As escolas fazem a maior questão de receber com os braços super abertos famílias e crianças de outros países, faz parte da educação de todos trabalhar diversidade na prática, é super rico para uma sala de aula, como se fosse um presente para os professores.

Sinta-se tranquila para perguntar e conversar com a professora do seu filho sobre qualquer coisa que quiser. Gosto de sempre enfatizar a importância desse canal. Lembre-se que ela também é importante para a sua segurança e confiança na escola, e ela sabe disso. Pais inseguros = crianças inseguras.

Outra coisa importante é que aqui no Canadá, devido as mudanças loucas de temperatura e também por questão de higiene, cada criança tem um Cubbie. É onde fica a mochila e todas os objetos de uso pessoal da criança. Trocas de roupa, lenços, filtro solar, chapéu, botas de neve ou de chuva, calças de neve, casaco (tudo isso dependendo da estação). O que não muda é: um sapato para usar dentro e outro para usar fora da escola (no parquinho, por exemplo). Esses ítens ficam na escola durante toda a estação. Todo o dia é a mesma rotina: os pais chegam com a criança, tiram as botas e os casacos, colocam os sapatos de ficar dentro e só aí podem dar tchau. Nessa altura do campeonato posso te dizer que a rotina vai ser sua melhor amiga! 😉

Desejo um bom início a todos!

 

Como a iniciação escolar pode ser boa pro meu filho?

Já cansei de falar aqui que não tem necessariamente hora certa pra criança ir pra escola. Existe uma combinação de motivos: pessoais, profissionais, sociais, que fazem os pais decidirem/precisarem colocar os filhos na escola. Mas hoje resolvi falar sobre como a escola traz benefícios para o desenvolvimento infantil.

Sempre que eu falo que sou professora de Educação infantil as pessoas fazem uma cara de interrogação, e, as vezes, me perguntam: “Mas o que exatamente você ensina?”. É engraçado o quanto essa pergunta parece vaga, né? Não somos professores de português, geografia, ciências…logo, as pessoas nos confundem com babás, ou somente cuidadoras.

Mas quer saber o que eu ensino? É na Educação Infantil que a criança aprende os valores mais importantes que ela vai carregar para a vida inteira: como conviver em sociedade. É na escola que as crianças são frustradas, na grande maioria das vezes, pela primeira vez. E não tem nada de errado nisso, é difícil para os pais fazerem isso em casa, e a escola é um bom lugar para aprender. Mas como assim frustradas? Isso é certo?

A frustração faz parte do crescimento, e se quisermos que os nossos filhos amadureçam, vai doer (psicologicamente, óbvio). 

Muita gente não sabe, mas as crianças, todas, nos primeiros anos de vida são extremamente egocêntricas, acham que absolutamente todo o mundo gira em torno delas. A maioria das coisas gira mesmo, rs, mas por exemplo: se o telefone toca, elas acham que foram elas que fizeram isso acontecer. E como fazer para explicar?

Inserção em um ambiente social é um jeito de explicar para a criança que ela não é o centro: uma escola tem várias outras crianças da mesma idade que elas, tão fofas, tão lindas quanto elas, e que também chamam a atenção, assim como elas. E é por isso, também, que os primeiros dias na escola são tão difíceis. Sem perceber, aquela atenção que, em casa, era 100% voltada para criança, na escola terá que ser dividida com mais 10 amiguinhos. E isso não tem jeito, é muito sofrido pra eles, por isso que se torna papel da escola e não dos pais.

É na escola, na maioria das vezes, que a criança aprende a esperar sua vez, aprende a dividir um brinquedo com vários amigos, aprende a respeitar e reconhecer o outro, aprende a não expressar seus sentimentos com seu corpo, aprende a se acalmar sozinha, controlar suas emoções, aprende a entrar na brincadeira, aprende a fazer amigos, aprende a conviver com o diferente, aprende a criar a sua própria identidade, aprende a ter responsabilidades, aprende a conviver em grupo, aprende a resolver os problemas sozinho, aprende a lidar com as consequências dos seus atos…ufa, e tem tanta coisa ainda…

Por isso que a iniciação escolar pode ser muito dolorosa para algumas crianças, portanto mais ainda para os pais. Mas saiba que o sofrimento faz parte do crescimento e que, assim que essa fase passar, você não vai acreditar no quão rápido ela passa 😉

IMPORTANTE: uma escola boa respeita as necessidades das crianças: fome, sede, sono, fralda suja. Todas essas habilidades precisam ser desenvolvidas em momentos em que a criança não esteja com nenhuma dessas necessidades.

 

 

Escolhendo a primeira escola pro meu filho – o que devo observar?

A escolha da primeira escola é muito difícil. Mas mais difícil do que decidir qual a hora certa de colocar a criança na escola? Queridos papais e queridas mamães, não existe hora certa, não é porque a sua amiga que fez curso de gestantes com você decidiu que o filho dela deve ir a escola que o seu também deva. Cada criança ou cada mãe tem o seu momento e, quando chegar, vamos aprender a escolher o lugar mais adequado?

Primeiro de tudo, a idade que o seu filho vai entrar na escola. Isso está 100% ligado ao que você deve observar. Hoje vou falar sobre crianças de até 2 anos de idade, pois conforme a idade, as expectativas dos pais sobre a escola também mudam. Então, se seu filho tem menos de 2 anos e você está pensando em colocá-lo na escola, esse texto é pra você!

É claro que toda família tem suas limitações e necessidades, mas, independente disso, estamos aqui falando de um lugar que você vai confiar seu filho várias horas por dia, então ele TEM QUE estar alinhado com as suas expectativas, senão NÃO SERVE. Não tenha medo de questionar, observar bem e até mesmo, passar algumas horas na escola pra entender a dinâmica e o funcionamento das coisas.

Então vamos lá, o que será que uma criança de até 2 anos de idade realmente precisa? O que será que ela desenvolve nessa idade? Eu te digo. Essa criança está aprendendo a confiar e se conectar emocionalmente com as pessoas, é até os 15 meses de vida que a criança se apaixona pela primeira vez, sabia? São esses sentimentos aprendidos nos dois primeiros anos que serão delas para sempre. A capacidade de confiar no outro, de se entregar, de amar, tudo isso é desenvolvido nessa idade. A ansiedade quando com estranhos, tudo isso é muito importante e deve ser devidamente respeitado tanto em casa, quanto na escola.

Cada criança é diferente, mas todas devem ser respeitadas de acordo com a sua personalidade, suas necessidades e seus desejos. É nessa idade, ainda, que as crianças ainda não podem ser consideradas “mimadas”, pois seus desejos são muito limitados: contato, cuidado, fome e sono. E esses desejos devem ser realizados SEMPRE, jamais ignorados. A criança precisa se sentir segura nessa idade, isso é o mais importante.

É até os 2 anos que ela desenvolve a base de confiança, o lugar que ela sabe que pode voltar se alguma coisa acontecer: “posso explorar, mas se eu cair, sei quem procurar”. A criança que não tem base de confiança, não vai explorar, ela vai ter medo sempre. A criança que não tem seus sentimentos legitimados não vai se sentir capaz, vai se sentir inferior, insegura.

O que observar então? Nessa escola, o mais importante deve ser a interação dos funcionários com as crianças. Observar se o ambiente é acolhedor para uma criança. Observar se os adultos respeitam os sentimentos dos pequenos, os reconhecem e os legitimam. Um exemplo positivo é: “eu sei que você está triste, mas pode ficar aqui comigo que eu vou estar do seu lado quando você chorar”. Um exemplo negativo é: “agora chega de chorar, não vou mais ficar do seu lado se você continuar chorando”. Outro exemplo positivo é: “a mamãe foi trabalhar, mas ela volta no final do dia, lembra que isso aconteceu ontem?”. Outro exemplo negativo é: “A mamãe foi no banheiro rapidinho e jaja volta, vem aqui ver esse brinquedo novo que ganhamos”. Distrair a criança é um exemplo de quebra de confiança, mentir para a criança é outro exemplo. Perceber se as crianças tem um relacionamento bom com as professoras, estão se divertindo, interagindo, sorrindo são exemplos de afinidade e confiança.

Outra coisa importante é: os pais devem se sentir seguros com a escola, conhecer as regras e concordar com elas. Sabemos que a confiança e ansiedade dos pais é transmitida para as crianças, então, uma vez escolhida é sempre bom conversar com o seu filho sobre a escola, contar o quanto a mamãe está feliz e segura com essa decisão e o quanto ele vai se divertir e gostar da escola nova.

Aí vocês devem estar se questionando, a comida não é importante? A infra-estrutura da escola? A localização, os brinquedos? Tudo isso também é importante, é claro, mas acredite em mim, está em segundo plano. O que você quer construir antes dos dois anos de idade são laços, afinidades, amor e confiança. E se você não pode passar todo esse tempo com o seu filho, escolha bem as pessoas que vão fazer isso por você.

Adaptação! O que fazer para ser menos sofrido?

Imagina ter vivido a sua vida inteira acompanhado da sua mãe e do seu pai, no máximo ter ido na casa dos seus avós de vez em quando. Um belo dia sua mãe te deixa sozinha em um lugar que você não conhece, nunca viu aquelas pessoas na vida, todo mundo fica querendo te agradar, chamar seu nome, ao seu redor só tem outras crianças chorando desesperadamente. Sua mãe não te larga, já falou que vai embora 20 vezes mas não parece nada confortável. Se minha mãe não confia eu não confio. Não quero ficar aqui. Mãe não me deixa aqui!! Não me parece uma situação nada agradável, o que você acha?

Agora imagina o outro lado. Você é a mãe, nunca deixou sua filha sozinha em um lugar que não conhecesse (tanto). Seu desejo é passar todos os dias da sua vida grudada na sua cria, mas precisa trabalhar. Entende a necessidade da sua filha socializar com as outras crianças da sala, aprender a dividir, fazer parte do grupo. Mas por que é tão difícil? É muito cedo, posso ficar mais 1 aninho em casa cuidando dela. Quem precisa de escola? Eu não preciso trabalhar (?). Não quero deixar ela aqui, e se ela me esquecer? Gostar mais daqui do que de casa? Só de imaginar já me da um aperto horrível.

Pois é, esse momento novo é tão difícil para os pais quanto para as crianças. E se não for cuidado pode virar um problemão. Não achamos mas as crianças são muito espertas, e são capazes de encontrar justamente o seu ponto fraco. Se ela perceber que a mamãe não está 100% segura com a escola, pode esquecer, na frente da mãe, vai ser sempre o maior drama pra ficar lá sozinha. Essa mesma criança que com a mãe chora desesperadamente, quando o pai leva não cai uma lágrima. Por que será? Com o pai ela sabe que não tem conversa, não adianta chorar que ela vai ficar lá chorando mesmo. Mas que difícil, então o que fazer?

Fase de adaptação é sempre motivo de muito stress na escola e em casa. Vamos tentar aliviar um pouco essa sensação?

Papais e mamãe: conheçam BEM a escola antes de colocar seu filho lá. Conheça a professora, a coordenadora, a faxineira, todo mundo que vai ficar com o seu filho e tenha certeza de que aquela é a escola que você escolheu. Visite quantas forem necessárias para você tomar a melhor decisão. Não faça com pressa, esse momento é muito importante.

Depois que escolheu, converse com o seu filho em casa sobre o que vai acontecer, explique racionalmente que ele vai conhecer novos amigos, novas professoras, vai se divertir, vai brincar e que a mamãe não vai estar lá o tempo todo, mas que no final do dia ela vai te buscar e vocês vão juntos para casa.

Quando chegar o dia/semana de adaptação (depende da escola) lembre-se de demonstrar confiança na escola, conversar com a professora, falar aquele detalhe que só você conhece sobre o seu filho (ele só dorme virado para o lado esquerdo com dois dedos na boca) e deixar o seu filho brincar. Não aumente a angustia dele querendo que ele fique no seu colo, abraçando e dando tchau beijos e abraços mil vezes. Uma vez que a criança saiu do seu colo empodere ela dizendo que ela vai ficar bem sozinha, e que a mamãe volta no fim do dia. Mas acredite nisso. Acredite que é importante seu filho ficar sem você um pouquinho, que assim ele vai crescer. Que despedidas são difíceis mas fazem parte da vida.

Super importante: não minta para o seu filho. Não diga que você vai no banheiro rapidinho e de repente não volta mais! Seja honesta com ele e crie laços de confiança, se você falou, vai ter que cumprir. Cade você que não voltou do banheiro? Seu filho não vai esquecer e também não vai mais acreditar em você…

Não é fácil! Peça ajuda, se precisar. Converse com a sua coordenadora, com outras mães que estão na mesma situação. É difícil, mas no final tudo da tudo certo.

Elisa Bianco

Play Based Curriculum

  Play Based Curriculum traduzindo para português ficaria: aprendizado através do brincar. Aqui o forte das escolas de Educação Infantil é promover essa pedagogia. No Brasil, eu diria que nós chamaríamos de pedagogia construtivista/humanista, mas ainda é diferente, sabe como? Vou explicar.

Aqui as escolas são divididas por centros (de artes, de blocos, de faz de conta, de livros, de matemática…). As crianças podem transitar por todos esses centros o dia todo (claro que sempre depois de brincar ela tem de arrumar do jeito que estava antes dela começar), mas a questão é: o papel da professora é arrumar esses centros semanalmente com brincadeiras diferentes e que façam parte do que aquelas crianças estejam vivendo naquele momento, para se tornar significativo para elas. Ficou confuso? Por exemplo: cada professora tem um caderninho de anotações. Durante a semana ela anota coisas que as crianças se interessaram e também habilidades físicas, cognitivas, emocionais e sociais que as crianças estão demonstrando.

Peguei uma anotação minha aqui: “E.M. quando estávamos  no parque caiu 3 vezes fazendo uma curva correndo. E.M. demonstra bastante dificuldade em manter seu equilíbrio.” Fiz uma observação de uma habilidade física, correto? Equilíbrio. Daí eu penso, como eu posso ajudar essa criança a desenvolver o equilíbrio em uma atividade Play Based? Fácil! Vou colocar bambolês no parque no dia seguinte e incentivar as crianças a pular de um em um primeiro usando os dois pés e, em seguida usando um pé só. Pronto! Desenvolvi uma brincadeira que tem um propósito e que será significativa para as crianças, pois o E.M está vivendo isso.

Duas informações importantes: as observações só podem ser utilizadas com 1 semana de diferença entre a brincadeira proposta, senão já não faz mais sentido para a criança, e não é isso que queremos, não é mesmo? Segunda coisa, é assim que os planejamentos se dão, eu mostrei uma anotação de habilidade física, mas poderia ser cognitiva, social, emocional. A professora precisa mudar os centros com atividades que façam sentido de alguma formas para aquelas crianças, semanalmente. Outro exemplo: a professora observou que uma criança está demonstrando dificuldade com resolução de problemas, a reação da criança é usar o seu corpo e não suas palavras para resolver situações que a incomoda. Como eu trago para o centro de faz de conta uma atividade que desenvolva a resolução de um conflito? Fácil! Vou trazer 3 panelinhas de comida com comidas diferentes e incentivá-los a cozinhar algo. Mas são 5 alunos, como será que eles vão resolver? Será que eles vão decidir que cada um tem um tempo para brincar? Será que eles vão decidir brincar juntos? Não sei, tudo isso será mais uma observação para a próxima semana e assim por diante…

Ser significativo e partir das crianças são os dois conceitos mais importantes do Play Based Learning. Aqui se acredita que as crianças aprendem brincando e que suas brincadeiras são extremamente poderosas para entender as habilidades que ainda precisam ser desenvolvidas. Ah, um detalhe, dei exemplos de brincadeiras para crianças de 3 anos (que no caso são os meus alunos) mas existem soluções para bebês, toddlers, e kindergartens também, a professora precisa conhecer o que é pode esperar de cada idade.

Quem quiser aprofundar mais ainda a discussão pode entrar no site do governo de Ontario e dar uma lida. É só clicar aqui.

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