É muito frio, mas a vida não para…

Aqui o lema é o seguinte, se a temperatura está acima de -15 graus é vida normal! Sim, acreditem se quiser, todo mundo sai na rua como se nada estivesse acontecendo. Pode estar nevando, chovendo tempestade congelante, NINGUÉM fica em casa, NADA é cancelado, rs.

Óbvio que nas escolas não poderia ser diferente. As crianças precisam ficar fora da sala de aula (no parquinho) duas horas por dia, pelo menos, e no inverno temperaturas como -10, -13 graus são bem comuns. O que eles dizem é: “Se seu filho está passando frio é porque ele não está vestido com roupas apropriadas!” (?!) As crianças saem muito bem agasalhadas, e eu também, mas juro que tem horas que me da vontade de chorar quando bate aquele vento de 40km/h e a sensação de uma temperatura de -13 cai pra -25… não sei como as crianças aguentam, só não sinto mais dó porque elas estão bem mais acostumadas do que eu, rsrs.

Em dois meses trabalhando em escola já presenciei as cenas mais malucas, principalmente pra gente que é brasileiro e se bate 10 graus positivo ninguém sabe onde enfiar a cara de tanto frio que sente. Descobri que as crianças que nascem aqui não sentem frio, não é possível. De um grupo de 15 alunos, nunca vi ninguém reclamar que o vento estava muito forte, que a mão estava congelando. Não, mentira. Uma vez uma criança de 3 anos, que estava bem mal agasalhada pois não tinha (?) luvas nem casaco impermeável (juro que não estou inventando). Os pais acharam que ela ia passar bem 2 horas na neve sem luvas nem casaco. Ela passou. Na primeira hora ela não reclamou, brincou normalmente. Quando a segunda hora chegou, coitada, ela não parava de chorar dizendo que estava sentindo dor nas mãos. Eu fiquei assustadíssima, claro, pra mim aquilo era hipotermia. Chamei a professora correndo que calmamente disse: “Ah, claro. Cadê as suas luvas fulana?”. A criança só sabia chorar e apontar para os braços. Quando corremos com ela pra dentro da escola seus braços estavam congelados de tão frios, vermelhos e machucados (secos e com pequenas feridas, sabe?) A professora levou ela pro banheiro, enfiou os braços da menina debaixo de água quente e depois os colocou debaixo dos braços dela, para voltar rapidamente a temperatura corporal. Pra mim foi sufoco, tive até pesadelo com o episódio, mas pra eles foi só mais um dia normal no Canadá.

O frio aqui só assusta turista, tipo o mosquito da dengue, todo mundo sabe que mata, mas ninguém faz nada pra se prevenir.

Early Childhood Education

Um dos assuntos que mais me perguntam é sobre a faculdade. Bom, faço Early Childhood Education na George Brown, mais conhecido como ECE. É um curso que dura 2 anos, literalmente focado na prática (o que eu amo e odeio ao mesmo tempo). São 4 semestres divididos em 14 semanas, dessas 14 semanas, 7 são teóricas e 7 são práticas. Sim, você passa 7 semanas o dia inteiro (8 horas) trabalhando de segunda a quinta (sexta tem aula) em uma escola pública aqui em Toronto. Você é Student Teacher, o que significa que não é certificada, mas faz absolutamente tudo o que uma professora faz, inclusive planejar aulas e falar com os pais.

Eu amo porque fico em contado direto com as crianças e a educação daqui. Aprendo muito mais do que um dia imaginei que fosse. As aulas são extremamente focadas, não tem encheção de linguiça. Tudo o que eu aprendo na aula eu aplico na minha prática, todos os dias. As professoras que são minhas orientadoras são extremamente rígidas, com higiene, com linguagem, com postura. O curso é objetivo mas discute o que precisa ser falado em educação, assuntos como: diversidade, homosexualidade, preconceito e inclusão são debatidos todos os dias, sem medo de aprofundar demais, ou tocar na ferida de alguém.

O ódio é só em relação ao tempo, rs. É tudo muito corrido, é um curso extremamente exigente, que cobra muito dos alunos. Aquele dia que você está cansado e só quer assistir aula não rola. Cada aula dura 3h e sempre exige muita atenção e participação dos alunos. Durante a prática, além de trabalhar 8 horas por dia de segunda a quinta, na sexta tem aula o dia inteiro (começa as 8h) e sempre com muitos trabalhos pra entregar. Então venha com MUITA disposição e muita vontade de aprender. Não é fácil, mas a experiência é maravilhosa.

Larguei tudo e me mudei pro Canadá!

Eu podia falar que foi tudo bem planejado, mas a verdade é que nem visto a gente tinha quando chegou em terras canadenses. Mentira, tínhamos visto de turista, rs! Eu e o Humbi sempre tivemos muita vontade de morar fora e o Canadá nos parecia ser um país bastante atraente para imigrantes (nossas pesquisas se limitavam a publicidades do Facebook, rsrs) e, apesar do frio, poderia nos ensinar muito.

Eu sou publicitária, mas trabalhava no Brasil há 4 anos com Ed. Infantil. Estava terminando a minha segunda graduação (em pedagogia) e trabalhava numa escola bilíngue Canadense como professora titular. O Humbi é engenheiro e também bem colocado no mercado. Apesar de tudo isso, da economia, mercado, desemprego, acho que o fator que mais pesou na nossa decisão foi o sonho, o desejo de mudar, de morar em outro país, novas experiências, aquela ladainha que é mais que verdadeira.

Viemos os dois com desejo de fazer faculdade, eu graduação em pedagogia (sim, tive que começar do começo, meus 2 anos de pedagogia no Brasil não serviram pra nada). E o Humbi veio fazer uma pós na área dele, que é engenharia civil (o diploma dele valeu, rs). Nós dois fazemos a mesma faculdade George Brown College, mas em campus diferentes. Moramos num apartamento em downtown e aprendemos a cozinhar, lavar, limpar e sobreviver trabalhando numa loja no shopping.

Chegamos em outubro do 2016 e, depois de toda a chatice do visto e de arrumar um lugar bom, bonito e barato, estamos só curtindo muito tudo isso.